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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Semana Caliente: A guerra começou


(Joseph Beuys)


Depois de tantas novidades no final de semana, os próximos dias prometem bastante emoção. Já li todos os jornais e lhes digo: temos uma segunda-feira atípica. Em geral, a imprensa acorda na segunda pálida e magra, cansada do esforço sobrehumano de fazer duas ou três edições inteiras na sexta-feira e das inevitáveis horas extras de sábado e domingo. Nesta segunda, os jornais estão enxutos, como sempre; porém corados e enérgicos, com algumas matérias bem "calientes".

A razão é simples. A campanha agora começou pra valer. Serra assumiu sua candidatura. Até postou no twitter:


Dilma, por sua vez, estreou ontem no mundo virtual. Em poucas horas, ganhou quase 10.000 seguidores.


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No Estadão, que entrou na campanha com a agressividade chauvinista que lhe é característica, temos uma chamada bombástica na capa.


Como de praxe, todavia, a chamada é muito mais forte que a matéria em si, onde encontramos um Aécio um tanto fleumático, capaz de afirmações do tipo:

Agora, não prometo vitórias. Prometo o empenho, que será de todos nós.

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A Folha inicia a semana sem a euforia triunfal da véspera. O editorial louva Serra despudoradamente, mas deixa escapar algumas críticas que deverão fazer o governador dormir menos e "tuitar" neuroticamente a semana inteira, tentando reverter o estrago.

Os números de sua administração, dissecados ontem pela Folha, mostram que as críticas endereçadas às dificuldades de investimento do governo federal serviriam para sua própria gestão. 
Lembrando: na véspera, a Folha fez um levantamento do governo Serra e descobriu que ele fez investimentos num percentual abaixo do governo federal (proporcionalmente falando, é claro), e de outros estados. Abaixo, o gráfico publicado domingo:



Há ainda outra frase crítica que deverá provocar a queda dos derradeiros cabelos do governador:

Certo é que depois de sua inconclusa passagem pela prefeitura, Serra fez, em quatro anos, um bom governo no Estado de São Paulo, aprovado por 55% da população - mas sem o brilho de sua passagem pelo Ministério da Saúde.

Tudo bem que a crítica mesclou-se ao elogio da gestão serrista no ministério da saúde. Não deixa de ser uma frase negativa. Mas o pior de tudo é que foi parar no subtítulo do editorial! Cabeças vão rolar!


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De forma geral, pode-se dizer que a imprensa mantém-se fiel a seu antilulismo radical. Ainda é serrista até o último de cabelo. Mas, como em Serra, faltam-lhe cabelos. E parece-me sem entusiasmo. No Globo, a coluna de Noblat mal consegue disfarçar um derrotismo latente.

Nos últimos dias, além disso, publicaram-se muitas matérias sobre a importância da internet. A imprensa, a meu ver, começa a se sentir acuada pela grandeza da rede. Nesse ponto, Dilma Rousseff tem um trunfo enorme. Além de contar com uma vasta rede de blogs autênticos, ela contratou dois grandes nomes da internet para comandar o marketing digital de sua campanha: Marcelo Branco, diretor do Campus Party, e Andrew Paryze, um dos caras que trabalharam na campanha do Obama. Hoje, aliás, há uma boa entrevista com Branco no Correio Braziliense.

Nesse ponto, Serra também é fraco. Tentou criar um factóide na web com o blog Amigos do Serra, vendido à mídia como uma iniciativa "espontânea" de eleitores. Foi desmascarado em segundos. O site é registrado em nome do PSDB. E os blogs do PSDB continuam às moscas. O serrismo continua, portanto, cada vez mais concentrado em torno do blog de um radical da ultra-direita, Reinaldo Azevedo, figura totalmente desmoralizada por suas posições extremamente racistas, por sua postura sempre grosseira e, sobretudo, por um sectarismo conservador caricatural. Se existe um indivíduo que pretende estabelecer a divisão entre "nós" e "eles", e tratar seus adversários políticos como inimigos mortais, esse é Reinaldo Azevedo. Ou seja, o principal blogueiro de Serra age totalmente ao contrário do discurso conciliatório do candidato. Não há coerência ideológica nenhuma, portanto, entre o serrismo real (representado pelos textos raivosos de Azevedo) e o serrismo utópico e hipócrita que vimos no discurso do governador nesse domingo.

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Raphael Bruno publica um artigo inteligente no Jornal do Brasil sobre a estupidez e deturpação grosseira de se chamar "stalinista" qualquer agremiação de esquerda.

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Fernando Barros e Silva, colunista da Folha, revela um sentimento na festa tucana de sábado que não foi divulgado por nenhum outro repórter. Rancor. E cita os discursos de Rodrigo Maia e Roberto Freire. Com tanta badalação em cima de Aécio, FHC, e Serra, pouca gente lembrou de transcrever os trechos do discurso do presidente do PPS. Pois então, através de Silva fui informado de que Freire acusou o governo Lula de ter um perfil ideológico que "se assemelha à idolatria estatista do fascismo". Quanta classe, não?

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Querem ouvir uma coisa muito engraçada? O Globo publicou hoje matéria intitulada "Para especialistas campanha será agressiva". Sabem quem são os especialistas entrevistados? Adivinhem? Eu até queria fazer mistério, e dizer só no final, mas o post já está muito grande. Então digo logo. Roberto Romano e Marco Antônio Villa. Eles mesmos. As fontes-coringas do Globo. Eles fazem bolo, costuram camisas rasgadas, dão receita de feijoada, indicam remédios, entregam pizza, apostam no bicho por você, enfim, são pau pra toda obra!

A reportagem em si não diz nada, e sobretudo não aborda o mais importante, que é a guerra de informação e contrainformação entre grande imprensa e blogosfera. Esse é o embate maior, e que ganhará ainda mais visibilidade durante a campanha.

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Não sei se é paranóia minha, mas repare que, na única página do Globo com informação sobre Dilma, o jornal enche a parte inferior de anúncios institucionais horrorosos de empresas estatais. São aqueles anúncios que as estatais são obrigadas a fazer na grande imprensa, mas que geralmente figuram nas seções menos nobres do jornal, principalmente nas últimas páginas do caderno de Economia. Desta vez, porém, eles ocupam uma página nobre de política, e os símbolos do governo federal, repetidos, poluem a página, ainda mais que estão logo abaixo da foto da candidata. Mas deve ser viagem minha. O Globo nunca iria tão longe, né?


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Voltando à Folha, leiam a entrevista de Dilma desta segunda-feira. A ministra ganhou simpática chamada na capa e boa parte da nobre página A4. Diferentemente de Serra, que prefere discorrer sobre ninharias pessoais, Dilma falou de programas concretos de governo. Discorreu sobre os temas fundamentais, como juros, câmbio, impostos, grandes obras. Falou sobre seu adversário, Serra. A entrevista foi tão densa que teve que ser resumida em tópicos para caber numa só página, em vez de vir no estilo "ping-pong". As páginas da entrevista de Serra, publicada na mesma Folha, no dia anterior, vieram preenchidas com dezenas de fotos do governador bebê, criança e adolescente, além da diagramação hiperleve, com grandes espaços em branco. E no estilo ping-pong, claro.

Abaixo, o fác-símile da entrevista de Dilma na Folha:

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