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terça-feira, 13 de abril de 2010

Estadão faz ataque desesperado



(Na foto, o dono do Estadão, no dia seguinte à vitória de Dilma)

Agora que já li os jornais, posso afirmar que este domingo foi inteiramente dedicado a promover José Serra. O Estadão publicou hoje um editorial muito agressivo, em que não deixou dúvidas que  fará qualquer coisa para impedir a eleição de Dilma Rousseff.

Interessante observar que, no dia seguinte à festa tucana, o Estadão desperte tão rancoroso, tão violento. Não posso concluir outra coisa: o jornalão dos Mesquita está desesperado.

Reproduzo o editorial abaixo, intercalado de comentários meus.


Editorial Estadão: Vale tudo por Lulilma

Bem que ele avisou. "Eleger a Dilma é a coisa mais importante do meu governo", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no congresso do PT que em fevereiro passado celebrou a candidatura da ainda ministra da Casa Civil. E, caso algum companheiro, ou quem quer que seja, não tenha captado a mensagem em toda a sua amplitude, esclareceu: "Eleger a Dilma não é secundário para o presidente da República, é a coisa prioritária na minha vida neste ano." Note-se a confluência entre o cargo e a pessoa, numa admissão involuntária, mas que não deixa o menor espaço para mal-entendidos, do atrelamento do governo em geral e da Presidência da República em especial à prioridade número um do seu titular no período final do seu mandato.

Óleo do Diabo: Engraçado, Fernando Henrique Cardoso mudou a própria legislação eleitoral, para beneficiar a si mesmo, mas é Lula que atrela o governo e a presidência à prioridade de eleger seu sucessor. Na verdade, o Estadão procura criminalizar o que é mais natural: Lula, presidente do Partido dos Trabalhadores, luta pela vitória de seu partido. Isso é política. Isso é democracia. Criminalizar o que é democrático é atentar contra a democracia.

Lula se comparou certa vez à "metamorfose ambulante" de Raul Seixas, para explicar a sua mutação política. Mas, em face da sucessão, a coerência de seus atos com as suas palavras é total. Ele tem feito e continuará a fazer o muito que está a seu alcance, no exercício do poder, para realizar a anunciada coisa mais importante do seu governo. E, se nada o tolher e ele for bem-sucedido, poderá dizer, parafraseando um afamado político paulista, que quebrou todos os limites éticos na condução do Estado, mas fez o seu sucessor. E ninguém terá o direito de se surpreender com a transformação do Executivo em simples apêndice da candidatura Dilma - assim como ela própria é apêndice de seu patrono.

Óleo do Diabo: Lula citou Raul Seixas. Mas o Estadão parece não querer entender o sentido das palavras de Raulzito. Nosso rockeiro maior, quando se autointitulou uma metamorfose ambulante não quis dizer que era uma pessoa sem caráter, cujos princípios oscilavam no tempo, e sim que era uma personalidade sempre aberta ao novo, um espírito criativo e tolerante, disposto a se adaptar às novas circunstâncias que o mundo apresenta. É uma coisa boa, enfim. Os editores do Estadão deveriam ouvir a letra inteira deste clássico do rock brasileiro, hoje praticamente incorporado ao inconsciente cultural da nação. É uma frase filosófica que corresponde a uma atitude antidogmática, a uma postura humilde perante a Verdade, cujas alturas a mente humana jamais alcançará. Devemos sim estar sempre prontos a rever nossas idéias e mudar. Esta é a única maneira honesta de lutarmos pela justiça, estarmos sempre evoluindo, mudando, amadurecendo. Partindo de um político de esquerda, a frase tem um sentido ainda mais importante, de quem não se conforma a palavras de ordem e a conceitos acadêmicos, mas faz política adaptando-se às realidades concretas, que são por natureza mutáveis. Vale a pena assistir um show de Raul cantando essa música. Raulzito canta-a com amor, raiva, paixão, além do sarcasmo de sempre. 

A única pedra no caminho de Lula é o Judiciário, que já o multou duas vezes pela descarada campanha em favor da então ministra, fabricando eventos públicos para exibi-la aos eleitores (40% dos quais, apesar de tudo, ainda não sabem que ela é a escolhida do presidente). Mas do alto da sua soberba - que o levou a dizer em um evento do PC do B, na quinta-feira, que, "se depender dos times que estão em campo, nunca tivemos (sic) uma campanha tão fácil" - resolveu peitar a Justiça. Nesse que foi o primeiro ato político pró-Dilma de que participou desde que ela deixou o governo, Lula afirmou que fará, sim, campanha de rua para a sua apadrinhada porque "não podemos ficar subordinados, a cada eleição, ao juiz que diz o que a gente pode ou não fazer".

O presidente - isto já é bem sabido - gosta de reiterar as suas assertivas. À maneira da fala aos companheiros do PT, quando achou que não bastava dizer que eleger a sua candidata é a coisa mais importante do seu governo, na festa do PC do B ele não se deu por satisfeito ao proclamar a sua independência do Judiciário. Sem a mais remota inclinação para a autocensura, acrescentou à promessa da insubordinação uma investida contra o Estado de Direito, ao disparar: "Não podemos permitir que o nosso destino fique correndo de tribunal para tribunal." Já houve neste país quem tivesse dito "a lei, ora a lei". Mas Lula, diferentemente do autor da tirada infeliz, Getúlio Vargas, se gaba de ser democrata.

Além da arrogância de se imaginar acima de quaisquer limites, como os velhos oligarcas da política nacional com quem se associou, e da obsessão com a suprema prioridade de sua vida este ano, Lula tem um motivo real para entrar com tudo na campanha - ou melhor, para não deixar Dilma solta por aí. O motivo, evidentemente, é ela mesma. Os dois dias que passou em Minas foram uma sucessão de vexames. Fez comentários insultuosos aos presos políticos de Cuba, foi hostil com o repórter que se referiu ao Estado como "berço tucano" e, sem a menor consideração com o provável candidato da coligação lulista ao governo mineiro, o ex-ministro Hélio Costa, do PMDB, pregou a dobradinha Dilmasia (ou Anastadilma): ela para presidente e o tucano Antonio Anastasia, ex-vice de Aécio Neves, para governador.

O candidato rejeitou com elegância o esquema por não ter "amparo na realidade". Por sua vez, um agastado Hélio Costa retrucou que a candidata poderá "morrer pela boca" e que, chapa por chapa, Serrélio seria uma boa alternativa. Decerto isso não está nas cartas a esta altura do jogo.

O que está é a crescente suspeita dos partidos da base aliada de que a construção de uma liderança política acreditada não é o forte de Dilma. A pessoa, desconfiam, simplesmente não é do ramo. É a servidão da candidatura Lulilma.

Óleo do Diabo: O Estadão deveria ouvir, além de Raul Seixas, uma outra canção, esta cantada por Bezerra da Silva, cujo refrão diz assim:


Eu já disse a você
Que malandro demais
Vira bicho
E também já lhe pedi
Prá você parar com isso.


Não existe nenhuma "crescente suspeita dos partidos da base aliada". Ao contrário, Dilma tem se notabilizado por uma capacidade ímpar de estabelecer alianças e dialogar. Tanto é que a sua campanha já conta com a participação de uma miríade de partidos e forças políticas infinitamente maior que a de Serra. O governador paulista, ele sim, mostra-se um fracasso em termos de aliança. A tal chapa puro-sangue do PSDB nada mais é do que o retrato do fiasco tucano em atrair partidos ou aliados de peso. 

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