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sexta-feira, 7 de maio de 2010

A estética da baixaria


A produção da blogosfera se mantém intensa. O Brizola Neto tem feito um trabalho espetacular em seu blog, respondendo a matérias do Globo, Folha e Estadão. Eduardo Guimarães, Nassif, Azenha, idem. Maurício Caleiro publicou hoje um postexcepcional sobre o cinismo de Serra em não se apresentar como oposição.

É tanto fera escrevendo que eu, quando me afasto da blogosfera por alguns dias, ou mesmo algumas horas, tenho a sensação estranha, quando volto à ativa, de estar "sobrando". Vejo os jogadores passando a bola um para o outro, com talento e classe, e me pego zanzando, meio confuso, de lá para cá, sem saber onde a bola se encontra.

Entendo que não posso pensar assim. A blogosfera tem de aumentar muito, muito mais. Meu blog tem batido recordes de visitação nas últimas semanas, e sempre que eu o atualizo de forma mais frequente, registro novos recordes. Lembro do tempo em que eu me orgulhava que o site do Arte & Política e meu blog marcavam 300 visitantes únicos diários. Outro dia, o Óleo marcou mais de 3 mil pages views e 1,7 mil visitantes únicos. Não digo isso para me gabar, ou antes, digo sim, mas também para mostrar que a blogosfera está crescendo efetivamente, visto que há blogs políticos com visitação infinitamente superior à minha.

E isso não significa nada. O público da blogosfera é ávido e infiel. Se você não atualizar seu blog, se você deixar a chama baixar, os gráficos despencam no dia seguinte. Existe um controle de qualidade severo na web. Isso a torna cada vez melhor, e também o trabalho do blogueiro cada vez mais difícil.

Uma das tarefas mais populares da blogosfera é o trabalho de contrainformação. A partidarização da mídia pesa na balança ideológica, produzindo desequilíbrio e demanda social por um contrapeso. Os blogueiros perceberam esse déficit e fazem o possível para preencher a lacuna.

Justamente por o Tijolaço estar fazendo um bom trabalho analisando o Globo e seus priminhos de São Paulo, eu me vejo empurrado para os subúrbios mais perigosos da big press. O blog de Augusto Nunes, por exemplo. Hospedado no site da Veja, Augusto Nunes é uma espécie de xipófago de Reinaldo Azevedo, blogueiro da mesma revista, de cujas estrepolias eu tenho me poupado há anos (tinha mais o que fazer; ler Faulkner, por exemplo)- mas que talvez, para não chutar a mesma bola que outros blogueiros estão tocando, eu também seja obrigado a frequentar.

Pois alguém precisa fazer a marcação desses caras; se tiver que ser eu, então eu faço.

Já escrevi algo sobre Augusto Nunes num outro post, mas creio que o tema pode ser melhor explorado.

O blogueiro da Veja é, antes de tudo, agressivo. Sua diferença em relação a Reinaldo talvez seja o estilo mais barroco e conciso. O interessante, a meu ver, é que, ao embarcar num discurso tão maniqueísta, tão encarniçadamente de oposição, Nunes faz exatamente o que Serra, que ele defende com um nervosismo que beira a histeria, vem procurando evitar.

Em virtude do grau tóxico do texto a ser analisado, creio que é mais saudável expor somente pequenas doses. Eis aqui, como exemplo, o início de seu último post, publicado há pouco:

Parida por stalinistas farofeiros, avalizada por um presidente ignorante também em geopolítica e executada por um chanceler poltrão, a política externa do governo brasileiro ultrapassou uma das últimas fronteiras da canalhice ao retomar a sequência de agressões a Honduras. Pronto para a viagem ao Irã, em fase de aquecimento para a tarefa de distrair aiatolás atômicos com afagos subalternos e anedotas vulgares, Lula voltou a absolver um governo infame enquanto reiterava a excomunhão de um presidente democraticamente eleito.

Esses caras produzem uma realidade paralela. Não há frase que não seja uma mentira. Não me darei ao trabalho de desconstruir peça por peça. Apenas chamo a atenção para o estilo caricato e preconceituoso. "Stalinistas farofeiros"... O Brasil nunca ganhou tanto dinheiro, tanto na exportação quanto no mercado interno. Este ano devem ser gerados mais de 2 milhões de empregos e a economia possivelmente crescerá mais de 7%. Faltou dizer que os stalinistas além da farofa também se alimentam de massas cheirosas...

O que acontece aqui? A resposta está em outro post de Nunes, em que ele reproduz texto de um comentarista:

“Bombardeada de críticas sobre seus tropeços no quesito fashion, a ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência, resolveu pedir a ajuda de profissionais de estilo para renovar seu guarda-roupa de campanha.”

Tropeços no quesito fashion? Esse é o maior problema de Dilma? E o discurso em andrajos? A sintaxe em farrapos? As concordâncias penduradas num trapo de tecido ordinário? A nudez grotesca do raciocínio. As ideias encardidas, rotas, puídas. A postura troncha. O pensamento sem alinhavo, sem ponto e pesponto. Os programas de governo sem bojo, sem modelagem. Os números sem medidas. A inteligência sem acabamento. A cognição do avesso. A ignorância extralarge, XXX?

Se Chanel e Dior ressuscitassem só para trabalhar como “profissionais de estilo” de sua campanha, Dilma não seria mais do que é e sempre foi ─ uma fraude mal acabada, imprópria até para uma arara de loja da Galeria Pajé.

Compreenderam? Eles não tem mais o que criticar. Diante dos números positivos da economia, do emprego, dos elogios da imprensa estrangeira, adotam uma linguagem cada vez mais desequilibrada e emocional. São textos sem verbos, sem substantivos. Apenas adjetivos, adjetivos, adjetivos... Não debatem mais idéias; atacam as pessoas. Usam a chacota para desequilibrar psicologicamente seus adversários. É a estética da baixaria.

A Veja assume-se como periferia violenta de uma cidadela midiática dominada por gangues psicóticas, onde o debate político é substituído por insultos, grosserias e chauvinismos.

Nunes parece o homem que diz berrando para sua esposa não falar alto, e xinga o filho por ter pronunciado um nome feio.

Curiosamente, os textos dessa turma toda estão ficando parecidos entre si. Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, semelham avatares diferentes do mesmo cérebro. Impressionam os incautos com seu palavreado incendiário, espalhafatoso, barroco. Mas disparam apenas fogos de artifício. O texto deles não se sustenta no tempo, porque não tem substância nem ritmo. Praticam um maniqueísmo tolo, pirracento, artificial, direcionado a espíritos pequenos e infantis. Em todas as épocas, existiram titipinhos semelhantes, tão cheios de si quanto ocos por dentro.

Se é esse tipo de gente que ataca violentamente Dilma Rousseff e Marcelo Branco, então podemos ter certeza de que Dilma é a melhor candidata e Branco é o melhor coordenador de internet. Os cães furiosos, presos às oleiras de seus donos, podem latir, babar, vomitar, os olhos injetados de ódio, não importa, a caravana vai passar sobre suas carcaças e seguir viagem em direção a outras guerras mais nobres, mais dificeis, contra adversários muito mais perigosos...

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